terça-feira, 29 de março de 2011

Moedas Sociais - Resenha de artigo

Resenha: “CLASSIFYING ’CCs’: Community, complementary and local currencies´types and generations”. Jérôme Blanc. International Journal of Community Currency Research. Nº 15. 2011.


O objetivo principal do texto é construir um quadro de classificação que possibilite a inclusão sistemática dos conceitos e experiências envolvendo moedas alternativas, ou seja, não oficiais – também chamadas de não nacionais - e que não tenham em seu uso motivação por lucro.

Um fato importante para a compreensão do texto e seu objetivo é que atualmente não existe uma forma padronizada e compartilhada de classificação dessas moedas bem como dos seus desenvolvimentos conceituais e práticos. É justamente neste ponto que o autor concentra seu esforço, ou seja, na tentativa de construir uma tipologia suficientemente flexível que permita o englobamento de conceitos ortograficamente parecidos, mas muito variados em sua semântica.

Para construir uma tipologia que abarque tanto a diversidade de origens históricas como desenvolvimentos futuros são utilizados como elementos base os conceitos – também denominados como tipos ideais - de “moeda comunitária”, ”moeda complementar” e ”moeda local”. É esse conjunto formado pelas três variedades conceituais que o autor denomina “CCs”. O autor esclarece que a vantagem do uso deste acrônimo reside na sua capacidade de englobar termos conflitantes. Em acréscimo à distinção dos tipos de moedas, o autor ainda constrói uma periodização onde cada uma de suas etapas corresponde ao que se denomina como geração.

O artigo tem sete páginas divididas entre cinco blocos a saber: o problema de nomear e classificar, princípios de uma tipologia, tipos ideais de acordo com projetos, gerações de esquemas e conclusão, além do resumo e das referências, sendo estes dois últimos não discutidos aqui.

No primeiro bloco o autor trata a dificuldade, segundo ele histórica, que existe em torno do estabelecimento de uma classificação comum para as “CCs”e considera como principal causa para tanto a obsolescência de modelos previamente criados devido às rápidas inovações e enfraquecimento de barreiras de diversas natureza que aparentavam ser intransponíveis. Contudo, o autor questiona acerca da necessidade de uma tipologia argumentando que a diversidade e inovação das ”CCs” não são restringidas pela falta de um quadro classificatório e ainda acrescenta a possibilidade desta não existência de ferramenta de categorização ser um elemento facilitador para o desenvolvimento daquelas. Ainda neste bloco Jérôme Blanc trata do acrônimo “CCs” justificando seu uso pela possibilidade que o mesmo tem de esconder conflitos entre nomeclaturas de moedas – mais especificamente entre comunitária e complementar. O autor ainda torna claro seu objetivo de construir uma tipologia flexível e aberta a desenvolvimentos futuros e termina o bloco informando sobre o que será discutido nos blocos seguintes.

No bloco dois o tema principal são os princípios a serem usados no desenvolvimento de uma tipologia. Como ponto de partida Jérôme Blanc utiliza a experiência do Social Money Workshop Facilitation Committee. A primeira observação refere-se à necessidade de diferenciar tipologia de itens de tipologia de sistemas. Uma tipologia de itens seria uma lista de itens elementares que compõem um sistema enquanto tipologia de sistemas seria a combinação de elementos formando assim determinados sistemas. Uma segunda observação relaciona-se ao fato que a Social Money Facilitation Committee desenvolveu uma tipologia genérica para sistemas monetários mais que para “CCs”. Isso faz com que “CCs” não pareçam muito diferentes das moedas tradicionais. Um terceiro aspecto refere-se a necessidade de que a construção de uma tipologia não foque na classificação de observações, mas sim ser flexível e aberta a inovações futuras. Em conclusão o autor acredita que uma tipologia deve sempre estar aberta a inovações, não querer ser considerada como a única correta e ser permanentemente discutida e transformada. Contudo o autor considera que a tentativa do Social Money Facilitation Committee falhou no seu objetivo de “delinear uma tipologia comum para sistema de troca” por apenas sugerir reflexão acerca de uma tipologia de itens. Já ao final do bloco o autor acrescenta como uma dificuldade na construção de tipologias para “CCs” é que freqüentemente qualquer moeda não nacional é considerada dentro daquele grupo.

No terceiro bloco, qual tem como tema principal a relação entre tipos ideais e projetos, sendo estes últimos podendo ser considerados como sistemas, o autor considera que estes então devem ser o foco da tipologia a ser construída negando assim a possibilidade de uma tipologia de itens. Segundo Jérôme Blanc um projeto pode ser definido por sua filosofia geral, propósitos gerais e seus planificadores. O autor faz uso de três categorias – troca, redistribuição e reciprocidade - definidas por Karl Polanyi para orientar as possibilidades de uma filosofia geral. Em acréscimo à filosofia geral, um propósito específico daria resultado a um dos três tipos de projetos que seriam a base dos esquemas monetários a serem tratados adiante. Os tipos de projeto são: territorial, comunitário e econômico Para especificar com mais detalhes os três tipos de projeto acima se faz necessário saber quem são seus possíveis planificadores a saber: governos, firmas capitalistas e organizações sem fins lucrativos. Com as informações passadas até agora o autor constrói relações entre tipos de projetos e esquemas monetários. Moedas locais com projetos territoriais, moedas complementares com projetos econômicos e moedas comunitárias com projetos comunitários. Neste ponto o autor, para evitar equívocos, reforça a idéia de que “CCs” não estão relacionadas aos ideais de soberania e obtenção de lucro. Uma outra observação importante que Jérôme Blanc faz é acerca da impureza dos sistemas reais, dificultando assim a construção de uma tipologia.

No quarto bloco o assunto principal são as mudanças ocorridas, as quais o autor classifica em gerações. O autor propõe uma tipologia de segundo nível na qual existem quatro gerações, cada uma combinando de diferentes formas com os três tipos ideais anteriormente descritos. Jérôme Blanc considera que a primeira geração surgiu na década de 1980 com o modelo da LETS; modelo este que durou até a metade da década de 1990. Ele tinha como características, dentre outras, as grandes redes, sendo algumas estruturadas em torno de organizações específicas e os sistemas de crédito mútuo com a emissão de moeda no momento da compra, mas também havia a possibilidade desta ser emitida com antecedência. A segunda geração, como define o autor, é aquela caracterizada por esquemas puros de troca de tempo , a partir do final da década de 1980 com os esquemas de dólar tempo nos Estados Unidos. O esquema de moeda neste caso é puramente comunitário alicerçado sobre o critério da reciprocidade multilateral. Blanc, ao tratar da terceira geração, a qual surgiu m 1991 com a experiência da Ithaca Hour, sendo esta baseada no modelo da LETS. Esta geração é caracterizada como tendo um propósito claramente econômico, constituindo assim esquema de moeda complementar, mas uma vez que existem ambições territoriais pode haver também esquemas locais. Como quarta e última geração o autor cita o esquema NU de Rotterdam que surgiu entre 2002 e 2003 com foco nas questões ambientais.

No quinto e último bloco o autor conclui o texto reforçando a necessidade de uma classificação flexível que permita a visualização dinâmica dos esquemas monetários. Segundo ele os tipos ideais permitem combinações entre si capazes de analisar formas concretas de esquemas monetários não nacionais e não movidos por lucros. Blanc ainda considera a identificação das gerações de “CCs” como recurso para evitar qualquer tipologia fechada e focar nos movimentos reais que emergiram desde a década de 1980 e que ainda continuam em transformação considerando, inclusive, o surgimento de novas gerações, principalmente em decorrência da emersão de novas tecnologias como a Internet.

O artigo traduzido em sua íntegra oderá ser obtido via e-mail.

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