sábado, 16 de janeiro de 2010

O Golem Laborioso

Texto desenvolvido para a disciplina Abordagem Sócio-Política das Organizações, ministrada pelo Prof. Dr. Reynaldo Paula(UFBA).

No texto “O Golem Laborioso”, de Hermano Roberto Thiry-Cherques, o mundo do trabalho, em especial a conduta dos seus atores, é desvendada através do golem - ser artificial mítico, associado à tradição mística do judaísmo, que pode ser trazido à vida através de um processo mágico – e seus avatares temporais: o robô, o andróide e o cyborg. As características típicas deste ser fantástico de formas humanas, correlacionando-se com a figura do trabalhador, foram analisadas em seus por menores no decorrer do artigo, tendo como pontos-chave a alienação, mentalidade de gueto, moral relativizada, instrumentalização de si, aristocratização e a solidão.

Devido à forma como a economia e as organizações vêem se estruturando, viver como golem é uma maneira de sobreviver às pressões do cenário que se impõe. De uma forma geral, um trabalhador-golem é um indivíduo que renuncia à sua própria individualidade e percebe no trabalho um lugar seguro contra os descaminhos da vida. Este tipo de trabalhador não é alguém que tenha sido obrigado a ser desta forma, mas alguém que ambiciona fazer parte da estrutura produtiva e ser reconhecido por isso; é por essência um sujeito conformista, deixa a cargo dos outros a decisão sobre o seu viver e que tem seus valores intrinsecamente atrelados aos valores da estrutura que compõe. Este trabalhador vive submerso em ilusão, fazendo acreditar e ao mesmo tempo acreditando naquilo que se faz conveniente ao sistema produtivo, tornando-se solitário dentro do seu espaço de trabalho, onde as comunicações são restringidas de formas diversas, como também ignorando laços sociais externos ao espaço da sua atividade, ou enxergando nestes uma continuidade daquele, pois a necessidade de pertencimento a um grupo foi a muito substituída pela necessidade de pertencimento a uma organização mantenedora do próprio status quoprodutivo.

Em um momento como no qual estamos, onde o ideário dominante é o da produção como sentido da vida, surge um espaço de grandes dimensões para o florescimento do trabalhador-golem, já que este se realiza através da realização dos objetivos do próprio sistema. Este tipo de trabalhador é um alienado por excelência, pois dá a posse do seu intelecto e sua força de trabalho, de forma integral, à organização e à produção, independentemente de quem seja o seu proprietário ou qual seja a maneira de produzir, desta forma deixando de ser o agente da sua própria narrativa.

Conforme a estrutura produtiva veio modificando-se no decorrer da história, o trabalhador-golem também se modificou, não na sua essência, mas na sua forma, assumindo então novas embalagens ou avatares, buscando sempre a melhor adequação possível à realidade do sistema, servindo então de instrumento para o seu sucesso. No inicio do século XX, com o surgimento da administração científica liderada por Friederick Taylor, surge o robô. Este possuía basicamente três características-chave: aversão a mudanças, imediatismo e a permissão das imposições feitas pelo sistema sem qualquer questionamento; sinteticamente seria o trabalhador-engrenagem.

O avatar que se segue é o andróide. Este se caracteriza como um robô que evolui de simples manipulado para ser um manipulado que também manipula e possui neste ponto sua principal diferenca. A este processo deu-se o nome de aristocratização. É característica deste avatar a capacidade de se transformam tão rápido quanto seja a metamorfose praticada pelo sistema, sendo esta capacidade advinda de uma base intelectual solidificada.

Por fim, surge o avatar cyborg, sendo este caracterizado pelo mito da infalibilidade e por conta disto, torna-se o referencial para o tipo de trabalhador que tem o conjunto de características que foram apresentadas até aqui.

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